OPINIÃO: Urgências do setor de tecnologia para Minas Gerais

Novembro 24, 2014

OPINIÃO: Urgências do setor de tecnologia para Minas Gerais

Setores de interesse

Governo, Inovação e Legislação

Ponto de vista de universidade - *Prof. Marcelo Speziali (UFOP)

Um dos maiores desafios do setor de tecnologia para o próximo Governo de Estado será investir na formação multidisciplinar de cientistas e gestores de conhecimento. É extremamente necessário formar profissionais que consigam atuar tanto no modus operandi da academia quanto no da indústria.

A academia brasileira produz centenas de artigos e tecnologias que acabam tendo como destino final a gaveta. A indústria, por outro lado, investe muito dinheiro no desenvolvimento de novas tecnologias, muitas vezes repetindo o que já foi feito pelos cientistas na universidade, simplesmente devido a um problema de comunicação. O simples fato de citarmos a frase “apropriação legal de tecnologias” causa, erroneamente, um extremo desconforto em muitos pesquisadores.

O verdadeiro desafio no desenvolvimento tecnológico começa com a formação dos profissionais que atuarão em todas as partes da cadeia produtiva do conhecimento. Precisamos basear a nossa política científica em modelos que já funcionam, com as devidas adaptações. Faz-se necessário nos reestruturarmos para termos profissionais com formação sólida nas áreas técnicas, bem como gerenciais, de propriedade intelectual, gestores de inovação, etc. É comum profissionais da academia se envolverem em intermináveis discussões sobre a falta de compreensão do setor industrial a respeito das condições de pesquisa da universidade. Assim como é comum, também, as discussões dos gestores de tecnologia nas indústrias e investidores de risco, que quase nunca se entendem com grupos de pesquisa da academia, culparem os cientistas da universidade pela morosidade de negociações e/ou entrega de resultados não condizentes com os propósitos do setor produtivo. Grande parte desses desentendimentos é devido à falta de profissionais que sirvam de “tradutores” ou “mediadores” entre academia – indústria. Instituições como a Universidade Técnica de Munique, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o Instituto de Tecnologia da Califórnia e vários outros centros de pesquisa distribuídos ao redor do mundo investem na formação multidisciplinar de alunos. Esses mesmos centros possuem um altíssimo renome internacional no que se refere à produção de ciência de base e ciência aplicada, assim como são referência em licenciamentos de tecnologias e desenvolvimento de novos produtos.

Enquanto uma vertente mais tradicional da academia discute se seria o papel da Universidade promover a inovação, ou se esse seria o papel do setor produtivo, nossa demanda mais urgente está na reestruturação curricular de diversos cursos e na formação de nossos alunos.

Sou formado em Química e durante muito tempo convivi com a angústia de diversos amigos que não viam oportunidades profissionais, caso permanecessem trabalhando e investindo em uma possível especialização na área. Após um tempo no exterior, pude perceber a imensa quantidade de químicos, principalmente doutores, trabalhando muito longe dos laboratórios de pesquisa e em funções jamais pensadas pelos meus amigos de graduação. A Química, assim como a Física, a Biologia e as engenharias são áreas produtoras de conhecimento que, se bem empregado, pode gerar tecnologias de altíssimo valor agregado, além de contribuir com a formação de recursos humanos. Cientistas e pesquisadores dessas áreas poderão e deverão trabalhar como analistas de projetos, jornalistas científicos, agentes de patentes, consultores de investidores de risco, empresários, etc. Mas, para isso, insisto na formação multidisciplinar de elevada qualidade, comparada às ofertadas pelos centros de excelência distribuídos ao redor do planeta.

 Marcelo Speziali é professor do Departamento de Química e coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Nite/UFOP)